quinta-feira, 2 de maio de 2019

FOCADO

O carro da transportadora mal estacionou e ele já estava a postos no portão, aguardando a entrega. Assinou às pressas e praticamente tomou a encomenda das mãos do entregador. Correu para dentro de casa. Abriu rapidamente a caixa. Do emaranhado de papel, fita adesiva e plástico-bolha, surgiu a esperada Máquina de Escrever. Os olhos brilharam. Colocou-a sobre a mesa especialmente reservada. Conferiu o exterior, tudo certo. Trocou a fita, verificou a lubrificação. Buscou um maço de papel. Tirou uma folha e colocou-a na máquina. Ajustou as margens, o espaçamento. Teclou algumas palavras. Perfeito.

Agora sim, poderia escrever. Tinha certeza que a seca de ideias era culpa dos computadores, com suas cores, brilho exagerado, ícones em demasia... E a famigerada internet! Não conseguia se concentrar diante daquilo. Era das antigas, mas papel e caneta era um meio lento demais para transpor a efervescência de seus pensamentos. Assim, a boa e velha máquina de escrever era a solução mais óbvia para manter o foco na escrita. Trancou a porta, pois não queria interrupções. Ligou o rádio, com uma sinfonia clássica tocando bem baixinho. Pôs uma folha limpa. Sentou-se confortavelmente na poltrona. Estendeu os braços e posicionou as mãos sobre as teclas. Esperou as ideias surgirem.

Dois dias se passaram e, tirando os intervalos de refeições corridas e poucas horas mal dormidas, ele ainda estava lá, diante do papel em branco. Uma semana depois, deixou a sala e voltou ao portão. Havia comprado O Livro das Inspirações e aguardava a chegada do entregador.

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